Professora emérita, foi a primeira mulher a lecionar física no Colégio Estadual Central, em BH, e a única engenheira formada pela UFMG na turma de 1946.
Morreu neste domingo, dia 19, a professora Beatriz Alvarenga Álvares, do Departamento de Física da UFMG. Uma das maiores referências brasileiras na produção de material didático na área de física, Beatriz tinha 100 anos e lutava contra o Mal de Alzheimer. Ela contraiu uma pneumonia, teve o seu quadro agravado e foi levada ao Hospital Mater Dei, onde faleceu.
O velório de Beatriz Alvarenga será nesta segunda-feira, dia 20, das 15h30 às 17h30, no Memorial Parque da Colina, onde ocorrerá o sepultamento.
Nascida em 1923, em Santa Maria de Itabira, a 140 quilômetros de Belo Horizonte, Beatriz Alvarenga mudou-se aos 10 anos com a família para a capital mineira. Nos anos 1940, ela foi a primeira professora de Física do Colégio Estadual Central de Belo Horizonte (Escola Estadual Milton Campos), numa época em que o ensino ministrado por mulheres era restrito a trabalhos manuais, ginástica e culinária. Em 1946, foi a única mulher formada em Engenharia Civil na então Escola Livre de Engenharia, instituição que, anos mais tarde, seria incorporada à UFMG.
Viveu para o ensino.
Em entrevista que resultou em perfil publicado em 2013 na Revista Diversa, Beatriz contou que escolheu o curso de Engenharia porque era a área que mais se aproximava da matemática, já que naquela época ainda não existia formação em Física no Brasil. No entanto, antes mesmo de concluir a graduação, já sabia que não atuaria como engenheira. “Desde o começo da faculdade eu dava aulas. É o que sempre gostei de fazer”, explicou ela, que acabara de completar 90 anos.
Em 1968, a professora foi uma das responsáveis pela criação do Departamento de Física no Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Na década de 1970, Beatriz escreveu, em parceria com o colega Antônio Máximo, também professor da UFMG, a coleção Física – contexto e aplicações, best-seller didático que a tornou conhecida nas salas de aula espalhadas pelo país. “Ela viveu o ensino 24 horas por dia e passou a vida inteira querendo ver a educação melhorar”, afirmou o amigo Antônio Máximo, em depoimento à mesma reportagem.
Até 2010, a coleção se chamava Curso de física e chegou a vender 1,3 milhão de exemplares por ano. As obras foram traduzidas para o espanhol pela Editora da Universidade de Oxford e distribuídas para toda a América Latina.
Beatriz Alvarenga aposentou-se em 1987 e, dois anos depois, recebeu o título de professora emérita da UFMG.
Pioneira da ciência.
Em 2018, ela foi uma das 10 mulheres incluídas na sétima edição da lista Pioneiras da ciência no Brasil, iniciativa do Programa Mulher e Ciência, que fomenta a participação das mulheres nas ciências e tecnologias e estimula o protagonismo de jovens em diversas áreas do conhecimento.
Mesmo fora da sala de aula, a professora continuou dedicando-se ao ensino de física. Ela transformou em laboratório um imóvel que adquiriu ao lado de sua casa no bairro Floresta. No local, em meio a objetos como esferas de Hoberman, óculos 3D e eletroímãs, ela recebia estudantes e docentes. Beatriz também visitava escolas em Belo Horizonte e no interior do estado.
Beatriz Alvarenga foi casada com o professor de português Celso Álvares e não teve filhos. Mas deixou dezenas de sobrinhos e uma legião de estudantes que aprenderam a desvendar os segredos da física em seus livros.
Foto: Foca Lisboa | UFMG